Minha mãe foi a pessoa que me alfabetizou.
Ela lia algumas tirinhas de jornal e gibis que meu pai
comprava. Colocava toda a entonação possível e estimulava ainda mais a
imaginação. Era muito prazeroso ouvi-la!
Depois veio o Caminho Suave que abriu as portas para minha
independência e assim pude começar a ler sozinho o que via pela frente:
pequenos livros de histórias infantis, gibis do Recruta Zero (tenho até uma
foto pra comprovar) e outras publicações para garotos daquela faixa etária.
Um dia, ganhei um caderno que se chamava “de linguagem” e aí
me ensinou a escrever. Como tinha uma letra medonha, passei a escrever em um
caderno de caligrafia, aquela com uma linhazinha auxiliar, para tentar dar
algum significado plausível à tudo aquilo. Não deu muito certo. Talvez por isso
eu não tinha motivação para escrever. Mas incentivo para ler não faltava!
Quando entrei na escola, meu pai comprou, com muito sacrifício, a coleção da
BARSA ou Enciclopédia Britânica e a tudo aquilo juntou-se um dicionário chamado
Lello que possuía sua juventude. Posso afirmar que li quase tudo o que continha
lá. Na escola, sempre que se pedia um trabalho ou pesquisa, era lá que
encontrava o conteúdo para fazê-los.
Mas escrever continuava a ser um grande problema! Nunca
ganhei acima de 8 nas minhas redações. Pelo contrário, quando a professora de
Língua Portuguesa precisava de um contra exemplo, adivinhe qual redação ela
lia? Acho que ela passava maus bocados tentando entender os meus garranchos. O
consolo é que nunca havia erros de Gramática, concordância ou de acentuação! Eu
sabia todas as regras. Era um bom aluno.
Meu problema era a falta de talento mesmo. Plagiava trechos
de autores que lia sem querer. Não tinha a menor originalidade! Confesso que
não li, na época, Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Memórias de um
sargento de milícias, O quinze, Os sertões, A hora da estrela, Capitães de
areia, Grande sertão: veredas. Mas adorava toda a coleção do Para Gostar de Ler
da editora Ática. Lia tudo de Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes
Campos, Lourenço Diaféria, Edgar Allan Poe, Luis Fernando Veríssimo, Lígia
Fagundes Telles, Rudyard Kipling, Stanislaw Ponte Preta, Samuel Wainer. Gostava
de crônicas pois eram mais curtas e, muitas vezes, eram divertidas!
Preparando-me para entrar na universidade, no cursinho,
havia um professor de literatura que encantava os alunos com sua leitura, cheia
de expressão e sentimento, de trechos dessas obras que rejeitei durante o
ensino médio. Eram passagens maravilhosas de Dom Casmurro, O quinze, A hora da
estrela, obras de Castro Alves, T. S. Eliot, Oscar Wilde, Scott Fitzgerald,
Pirandello e outros autores do mundo todo!
Certo dia, depois de muitos anos, meu sogro me convidou para
participar de um curso de oratória. Falar em público era uma experiência que
nunca havia enfrentado. Fiquei aterrorizado com a situação de ter que falar
pessoas estranhas. No primeiro dia do curso tínhamos que discursar sobre um
assunto que conhecíamos muito bem: falar de si próprio! Depois de ver os
discursos dos colegas, eu percebi que todos tínhamos dificuldades em falar sem
nenhum texto em mãos: alguns falavam muito baixinho, gaguejavam, ficavam
desconfortáveis, choravam e não tinham coragem de ser mais claros em suas
ideias. Quanto mais rápido terminassem, melhor. Eu também estava assim.
Porém, com o passar do tempo, podia-se sentir a evolução dos
participantes. Melhoravam sua postura, os assuntos eram mais divertidos e
interessantes. A razão disso é que para se falar bem é preciso estar preparado.
E para estar preparado é preciso ter escrito e reescrito várias vezes o que
iria discursar. Claro!
Creio que, para meu desenvolvimento em leitura e
escrita foi necessário alguém ou alguma coisa (mãe, o professor do cursinho, o
curso de oratória) que apresentasse as obras para mim. A oralidade foi o estímulo
necessário para estimular a outras competências.
Prof. José Carlos Suzuki